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Welcome, take a seat.

Um site mais do que profissional

Zoe Leonard

Qual o limite da individualidade virtual?

Mesmo pra mim, que cresci com a internet, muitas vezes é difícil resgatar como eram nossas formas de interação com o mundo virtual antes das mídias sociais. Com algum esforço e pesquisa, consegui acessar documentos e mensagens virtuais de 2005, num mundo no qual a comunicação era baseada no e-mail, apesar do Orkut já existir. Mensagens compartilhadas com dezenas de pessoas retornavam à sua caixa de “não lidas” constantemente, cada um contribuindo aos poucos. Os diálogos eram privados por limitação. Quem entendia mais do assunto ou era mais curioso, construía seu próprio ambiente virtual, normalmente voltado a um interesse (hobby) ou ao trabalho. A massificação das mídias sociais realmente mudou a nossa forma de interagir virtualmente e, aliada ao clima social, potencializa uma tensão bem peculiar a esta época.

Talvez seja isso que me fez ficar desconfortável com a forma pela qual venho me relacionando com a internet: de antiga fonte de conhecimento e interação para atual fonte de ansiedade e descontentamento. O cálculo não é tão exato, mas a balança tem pesado para este lado. A quantidade de reclamação e revolta que chega até mim aumentou consideravelmente. Em meio a essa ferida aberta que a internet nos oferece, penso há alguns meses em como obter um benefício melhor da rede. Em resumo, como me sentir em casa.

É importante sentir-se em casa. Esse é um sentimento complexo, que se revela por meio de tantos outros: segurança, estabilidade, familiaridade, identidade. Quando a gente passa muito tempo ao lado de algo ou alguém, isso acontece inevitavelmente. Eu percebi que minha presença online se refletia como um constante aluguel de quitinetes, entre as quais eu vivo pulando. Então, eu decidi criar um site para mim. Um local que eu pudesse chamar de casa na internet, em busca desses sentimentos que uma casa proporciona. Mas, para isso, eu precisaria ter um espaço que contivesse informações do meu universo, limitado apenas ao que eu não desejasse compartilhar com o mundo. Curiosamente, eu sempre identifiquei um site pessoal como uma ferramenta de trabalho. Mas eu gostaria de ir além disso, porque minha identidade está além da minha profissão. Eu desejava um lugar que reunisse informações de que eu gostaria de me lembrar e que me sentiria bem em compartilhar. Pensei em contratar um serviço, mas o Squarespace parece entregar tudo o que eu preciso.

Eu já cheguei a pensar que minha casa virtual era o Twitter. O Facebook. O Tumblr. O Medium. Mas todas elas só parecem fazer sentido se houver uma conexão massiva com a maior quantidade de perfis possíveis. Isso me incomoda. Primeiro, porque eu tenho dificuldade de conseguir muitos seguidores. Talvez seja falta de carisma, talento ou paciência. Ou talvez falta de desejo mesmo. Segundo, porque o valor da interação online massiva parece ter perdido o impacto que uma vez eu pensei ter em mim. Ao invés de perguntar “quem não gostaria de ter 1 milhão de seguidores?”, a pergunta correta parece ser “o que fazer com 1 milhão de seguidores?”. Provavelmente, a primeira e única reposta é ganhar dinheiro. Porque não há 1 milhão de amigos ali. Talvez, o número nem chegue a 10. Pra mim, também não faz muito sentido seguir um monte de gente. Não seria possível prestar atenção na maioria, que também nem seria tão interessante assim. As mídias sociais também parecem ter chegado a uma certa estagnação. Mesmo as mais novas, como o Tik Tok, são bastante repetitivas e cansativas. Pode ser a idade falando aqui—sempre bom ficar atento—, mas é a minha impressão. É claro que ainda identifico utilidade nas mídias sociais. Boa parte das informações que consumo vem de lá. Entretenimento também. Mas definitivamente não as identifico como fonte de identidade virtual e muito menos me sinto em casa em meio ao seu ambiente pré-mobiliado.

Para resgatar a internet para mim, então, construí o meu espaço. Usei estruturas pré-moldadas, mas que permitiram montar a minha casa como imaginei: falando de trabalho, mas também dos meus hobbies, da minha história, das minhas visões de mundo (com o blog) e até da minha intimidade (área restrita com acesso por senha). Gosto de pensar que essa pode ser uma nova fase da internet, na qual a rede possa nos ajudar a compreender cada vez mais quem somos e o que queremos para nossas vidas; sendo menos boca-pra-fora e mais autoconstrução. A busca pela própria identidade é uma das mais constantes para mim. Eu recalculo repetidamente meus parâmetros e referências, interessado em me entender e, porque não, valorizar-me. Sinto que esse site pode ser meu depósito de vida, que eu devo manter limpo, organizado e alimentado. E ao qual eu vou retornar de tempos em tempos para ver como eu mudei e o que construí. Uma experiência ruim com um HD externo me fez refletir sobre o registro e manutenção de minhas informações ao longo do tempo. E, neste sentido, a nuvem (enquanto funcionar) parece ser uma boa alternativa para assegurar a integridade de meus registros. Indo além, o nascimento do meu filho me fez perceber a importância da construção de um legado, tanto para ele quanto para mim. E tenho essa pretensão com meu site também: poder mostrar a ele (e a mim) quem eu fui e sou, de uma forma menos social e mais singular.

Em meio a essa auto-arqueologia em vida, espero obter mais respostas. E minha intenção não é o isolamento ou ser antissocial. É prestar mais atenção em mim e oferecer o que acho que tenho de melhor ao mundo. Então, sejam bem-vindos a essa casa-escavação. Não reparem a bagunça. Estamos em construção.