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Welcome, take a seat.

Entre a floresta e o futuro

Suriname

O Suriname tornou-se livre em 1975. As aparências comprovam. Casinhas de madeira são timidamente substituídas por construções de concreto. Um mercado pouco aquecido não ajuda.

Almocei com Satish no Sarinah, restaurante indonésio cujo dono é brasileiro. Tem coxinha de frango no restaurante. O salgadinho. E é boa.

Uma criança oriental fazia manha em outra mesa enquanto eu explicava a Satish como Brasília é organizada geograficamente. Ele pediu pra mim uma bebida de leite coco bem adocicada, que vinha com algo parecido com sagu boiando. Foi gostoso.

Eu comi um macarrão com camarão. Bom também. Satish pagou por tudo sob meus protestos. Mas eu era seu convidado. Falamos sobre futebol. O pessoal daqui torce 49% para a Holanda, 49% para o Brasil e 2% pra Argentina, Alemanha, etc. segundo ele. A Copa de 2014 ainda ecoa por aqui. O que foi aquilo? Os surinameses estavam menos preparados que nós. Vários jogadores holandeses são do Suriname ou descendentes. Seedorf, Davids, Rijkaard, Gullit. Ainda vejo se consigo uma camisa de um time do Suriname até quarta. Satish gosta do Ganso. Viu um vídeo com lances dele esses dias na internet.

Holandeses precisam de visto para entrar no Suriname. Brasileiros não. Resquícios de uma relação forçada. Os holandeses passaram a exigir vistos dos surinameses, que devolveram na mesma moeda. Satish lembra como era na época da colonização. Cantavam hino pra rainha no pátio do colégio. Ele morou duas vezes na Holanda já, pra estudar. Ele prefere cidades pequenas. É normal para surinameses e holandeses se visitarem. Estudantes passam temporadas lá e cá.

Atrativos turísticos? Tem uns rios que lembram praias. Mas parece que os holandeses gostam de ter um lugar longe de casa onde a população fala a mesma língua que eles. Há muitos holandeses turistas por aqui. No ônibus do aeroporto que leva aos hotéis, havia duas holandesas muito faladoras ontem.

Há uma padaria aqui, de uma família portuguesa que chegou muito tempo atrás, responsável pela produção de 80% dos pães de Paramaribo. Fernandes. O cheiro é demais.

O Suriname tem em torno de 600 mil pessoas, das quais mais da metade mora em Paramaribo. 30 mil brasileiros. No aeroporto, conheci o André na fila da imigração, onde nos confundimos juntos até eu perguntar ao brasileiro da frente – na verdade, um holandês que falava português muito bem – se estávamos na fila certa. Não estávamos. André veio do interior de São Paulo (saiu de casa às 3h da manhã) para trabalhar numa máquina que lida com água voltada para as minas de ouro. Volta só no sábado ao Brasil. Não conseguiu voo antes.

Há 4 grandes hospitais no Suriname. Passei por um deles. Um grande bloco envelhecido à beira mar. Não tem praia por aqui. Muita lama na costa.

O país é um grande exportador de ouro, dos quais 1/3 é oficial. Também são exportadores de petróleo e eram de alumínio até a Alcoa mudar de ideia em novembro passado. O pessoal ainda está vendo como resolver isso.

Estamos na época de muita chuva. Há a época de pouca, quase nenhuma e praticamente nenhuma. Muitos mosquitos prestigiam a época de muita chuva. O hotel é selado de cima a baixo. Descobri o porquê no café-da-manhã. Percebi os bichinhos ansiosos recostados contra o vidro do lado de fora. Era como se tivessem me identificado. Não vendem repelente no hotel, apenas passam spray nos quartos. Há uma piscina subutilizada lá fora. Em dia de semana, é mais difícil.

Ano passado, governantes imprimiram 1.8 bilhões de dólares surinameses pelas bandas de cá, elevando a cotação do dólar de 3.2 para 5.6. Satish que disse. Ele também disse que, se eu afirmasse ter 23 anos, ele acreditaria. Eu sei.

A embaixada dos EUA está construindo uma nova estrutura gigantesca em Paramaribo. Ninguém sabe ao certo porque.

Os bancos abrem às 7h30 por aqui. E fecham às 14h. O restante dos negócios segue o mesmo ritmo. É muito quente pra se concentrar em determinadas épocas do ano.

Fico pensando se poderei dizer, daqui a décadas, que apareci pelo Suriname “quando isso aqui não era nada”. Só vendo.


Viajei ao Suriname em maio de 2016 a trabalho. Publiquei este texto, de terras estrangeiras, no Medium em 10/05/2016.