El famoso pograma de incas
Paisagem peruana.
Las conchas son más negras que piensamos
Tirando o lado da aflição, desespero e possível trauma permanente, experiências de quase morte têm seu valor. Para os dramáticos, elas acontecem com mais frequência e uma viagem de avião mais vibrante basta. Entretanto, poucos são aqueles que discordarão que andar de van pelas estradas do Peru constrói caráter. Faz a gente valorizar um pouco mais a vida e, saindo-se vivo, o mundo ganha novas cores.
Ontem à noite, arrasamos no pisco sour caseiro. Finalmente.
Paulinha tomou as rédeas da situação e, com a assessoria da Dri e da Denise no ato de espremer limões, resolveu a parada. Junto com o lanchinho da noite, preparamo-nos para o dia seguinte de altas emoções.
O combo triciclo + van a Máncora foi utilizado mais uma vez. No caminho à cidade, passamos pelo mesmo plástico verde pendurado em galhos de uma árvore aparentemente sem vida. Dilacerado pelo vento, o saco compõe a paisagem dramática que nos acostumamos a ver nos últimos dias. Quanto lixo.
Chegamos ao Camila Tours® e Camila não estava lá. Não se sabe o que nos fez pensar que os peruanos são pontuais – excluindo o fato de que a moça que nos atendeu ontem reforçou várias vezes a importância de sermos pontuais -, mas chegamos 15 minutos antes a nossa empresa turística pra garantir. A porta estava fechada e ficamos esperando na frente até um peruano maluco aparecer na janela e nos perguntar se estávamos querendo “golpeá-lo”. Então, fechou a janela. Minutos depois, um casal de atendentes chegou e abriu o estabelecimento. Carimbaram nosso ticket e, milagrosamente, apareceu um micro-ônibus novo com ar-condicionado. YES.
Fomos acomodados nas cadeiras de 13 a 20 e os coleguinhas de tour atrasados começaram a chegar. Às 9h26, rumávamos para el tour, mas quem aqui está contado os minutos, certo?
O guia William, com uma seriedade inicial inesquecível, realizou uma longa apresentação prévia. Há quem ouse dizer que foi o trecho mais longo da viagem. Sinalizou que nosso passeio duraria em torno de 10h. Uau.
En el bus verde, seguimos nuestra jornada. William colocou um filme em DVD para nos entreter: “Ninguém segura esse bebê”, provando que, assim como com a música, a o usufruto do cinema pelos peruanos também parou no tempo. Filme dublado em espanhol. Gracias, William.
D-U-A-S-H-O-R-A-S-D-E-P-O-I-S…
…chegávamos à cidade de Tumbes. Uma passada no banheiro e estávamos prontos para vestir o colete salva-vidas cuja principal razão era nos fazer passar mais calor do que o norte quase equatorial do Peru já nos proporciona. Em meio a los manglares (mangue), rumamos ao criadouro de cocodrilos. Gaviotas, pelícanos y garças pelo céu acompanhavam o nascer de nosso sofrimento. É nos manglares que são criadas las famosas conchas negras, moluscos do mangue. O guia da embarcação repetiu à (nossa) exaustão que as famosas conchas negras e cangrerros são coletados nos famosos manglares, que secam completamente às 17h. Só não são coletados entre março e abril, o período de reprodução.
O guia da embarcação repetiu à (nossa) exaustão que as famosas conchas negras e cangrerros são coletados nos famosos manglares, que secam completamente às 17h. Só não são coletados entre março e abril, o período de reprodução.
O guia da embarcação repetiu à (nossa) exaustão que as famosas conchas negras e cangrerros são coletados nos famosos manglares, que secam completamente às 17h. Só não são coletados entre março e abril, o período de reprodução.
Não teve banho de lama, porque não está disponível faz 10 meses, em razão das poucas chuvas. A moça que nos vendeu “esqueceu” de avisar. Cá entre nós, não vi problema nisso.
Quando a boa notícia de um passeio é que ele não será tão longo, dá pra entender o tamanho do drama. Torcemos e a coisa foi se encurtando, mas não com facilidade.
Não há dignidade ou diversão no criadouro de cocodrilos, que prefiro chamar de “as ruínas peruanas do presente com crocodilos”. Ficam paradinhos, no marasmo que é viver enclausurado. Lembrei até da cena marcante que presenciei com meu pai e Rodolfo ao assistir no cinema o filme Volcano: após a tragédia se confirmar e a estrutura subterrânea do metrô ser inundada por lava quente, o cinema em silêncio ouviu a narração de uma atônita espectadora que não se conteve ao presenciar a cena e balbuciou “estão todos mortos”.
A surpresa é ainda não terem feito um meme de crocodilos que desistiram de viver e preferem morrrEEeeeEer (estilo Tiririca). Se a internet um dia passar por aqui, é tiro e queda. Em um dos cercados, havia uma garrafa de coca-cola vazia, que só posso entender como uma tentativa do cocodrilo de superar o marasmo que é sua vida.
Saindo da excelente estrutura da qual los cocodrilos desfrutam, passamos por 3 ilhas cuja semelhança com meu conceito de inferno me assustou. Paramos o barco para os piadistas que decidiram dar uma voltinha de Banana Boat®, apesar de ser claro que ninguém deveria estar a fim de tamanha marmotagem. Mas ei, quem está reclamando?
Depois da perda de tempo mais inútil do dia, passamos pela ilha dos Ossos de Baleia, onde não há mais ossos de baleia, mas que um dia já os teve, quando os pescadores a usavam de cemitério. Por sorte, não tivemos que descer.
Em seguida, visualizamos ao longe a Ilha do Amor: local para onde a peruanada vinha para passeios de casal e libidinagens em geral.
Finalmente, terra firme. Tivemos que sair rápido do barco porque a estrutura que nos recebia havia cedido un poquito. Livres dos coletes, rumamos ao restaurante. Aguardamos uma hora para receber a comida – menu degustação com ceviche de entrada e arroz ou espetinho de peixe de prato principal. Reguei a espera com Inca Kola, pois o dia já estava ruim demais para beber cerveja quente, a única disponível.
Ao fim do almoço, enquanto pensávamos em formas de escapar, William aparece trazendo a dura realidade: seguiremos o tour. City tour ou playa, ele pergunta. Em uníssono, o grupo responde “Playa!”. Temos 1h45 para desfrutar de uma vista um pouco mais verde que o costume, mas com quase o mesmo lixo, Até chegar lá. Na telinha, o clássico mexicano “No se aceptan devolucones” com áudio dessincronizado. Gracias, William.
Mas, para ser justo, o áudio acabou se sincronizando e o filme nem é tão ruim assim (apesar de ter o ator principal mais feio que vi ultimamente).
Em El Balneario Punta Sal, ficamos ilhados por 1h40. Demos uma volta pela praia, o pessoal deu estrelinhas pela areia, tiramos fotos ao por do sol. Ironicamente, ficamos ansiosos para voltar e terminar de ver o filme, que se revelou piegas demais da conta, olôco, gente, por favor. Mas, ainda assim, arrancou lágrimas dos presentes. Clarissa, claro, estava entre os chorões.
Depois de uma volta rápida pela cidade, paramos en el cafe-bar Sirena. Bebidas e lanchinho para lembrar com humor e ironia do dia que passou. É a melhor forma de enxergar a vida, para o bem ou para o mal. Ainda tivemos aquela dificuldade básica para conseguir uma van de volta a Los Órganos. Mas conseguimos a melhor van até o momento. As coisas estão melhorando.
Amanhã devemos fazer aula de surf por Los Órganos. Chega de Máncora.
De 2015 para 2016, passei o fim de ano com amigos no Peru. Esse texto foi publicado no Medium em 04/01/2016 e é um dos meus preferidos da viagem.