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Welcome, take a seat.

Enquanto o mundo acaba (como sempre)

The Veteran in a New Field, Winslow Homer (1865).

The Veteran in a New Field, Winslow Homer (1865).

Eu publiquei esse texto no Medium, no dia 18/03/20, nos primeiros dias da constatada pandemia. Segue valendo. Em tempo, essa pintura de Winslow Homer representa que, mesmo após uma dura batalha (no caso, do veterano de guerra), a vida continua com mais desafios pela frente. É disso que ela é feita.


O mundo está sempre acabando. E a democracia está sempre em risco. Quem acha o contrário não está prestando atenção.

Mas isso não quer dizer que o mundo está cada vez pior. Ou mesmo que não vale a pena lutar por regimes democráticos.

Tudo é frágil e tende a acabar. E, de formas distintas, tudo luta para sobreviver.

Normalmente, essas lutas são silenciosas e longas. Estão escondidas no cotidiano cheio de compromissos, promessas, acordos, notícias, dramas pessoais e entretenimento.

Mas há momentos de exceção, em que uma grande luta se destaca. Pode ser uma guerra, uma crise econômica ou mesmo um vírus que se espalha com velocidade e tem consequências difíceis de calcular.

Nesses momentos, a ideia da exceção se soma à própria exceção e mexe com nossas cabeças.

A realidade ganha ares de ficção, nós começamos a imaginar cenários e o medo vem.

O medo é capaz de nos tornar pessoas piores, que agem impulsivamente e não se preocupam com os outros. Isso somado às mídias sociais ajuda a criar uma histeria que se materializa em desabafos, brigas, argumentações irracionais e mesmo mentiras.

Então, se você puder consumir menos notícias e mídias sociais, compartilhar menos o que aparece na sua timeline sobre o assunto e até conseguir segurar seus desabafos para si mesmo ou seus amigos mais próximos, já ajudaria bastante.

Se você puder trocar julgamentos apaixonados por sugestões serenas, estará mais ajudando do que atrapalhando.

Se você puder evitar fazer política em um momento de exceção, ajudará bastante também a diminuir o ruído em uma hora como essa.

O que você diz e escreve tem impacto nas outras pessoas, que podem estar passando por momentos mais frágeis do que você, ainda mais se forem jovens e crianças ou grupos de risco.

Siga as dicas dos órgãos competentes e cheque notícias por meio de fontes distintas. Siga desconfiando de políticos, economistas, sociólogos, influenciadores digitais e mesmo cientistas de qualquer ideologia.

Nós somos uma soma de nossa educação, personalidade e visão de mundo. Imperfeitos, frágeis e finitos. Igual ao mundo e a democracia.

Também lutamos para sobreviver. Mas somos diferentes de tudo, porque temos consciência. Para o bem e para o mal.

O mundo vai seguir acabando, rápido e devagar. O que pode mudar é a forma como lidamos com o fim. O medo estará sempre lá. Cabe a nós impedir que ele nos torne pessoas piores.

Não é preciso diminuir a crise para se sentir melhor. É preciso aumentar a força em meio e a cada crise. E eu sei que você é capaz. Senão não teria chegado até aqui.

Eu sinto que estou sempre me preparando para o fim, porque ele é o que mais dói. O fim do relacionamento, do emprego, carreira, do salário, da juventude, da potência, da amizade, da saúde, da vida.

E o fim da vida não vem agora. Não para a grande maioria. Ele fica sempre pra amanhã.

E, enquanto ele não vem, o que nos resta é a vida. Que, como todos sabemos (apesar dos pesares), é boa demais.

Sigamos cada vez mais fortes. Nós contamos com vocês.