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Welcome, take a seat.

De que amor você fala?

Adam Hall

Adam Hall

Amor é a capacidade de, ao sentir-se completo, devolver essa completude ao mundo. E, para estar completo, não é preciso necessariamente ter um par. Há diversas coisas que nos tornam íntegros.

O próprio sentido da palavra “íntegro” ganha novos ares relacionado ao amor.

É possível ter um par e não ser íntegro. Quando isso acontece, a vida a dois pode se tornar infernal. A falta de sintonia transforma o conceito de amor. E, sendo o conceito tão forte, o desequilíbrio é desastroso. Amar não é depender de alguém ou exigir algo em troca do que se ofereceu. É devolver ao mundo sua integridade. Amor se nutre, não se cobra.

Quem é íntegro pode contribuir com seus amigos e família, de uma forma que muitas vezes eles não podem devolver. Inclusive, pode contribuir sem esperar devolução. Isso não quer dizer que ele não tenha expectativas. Quer dizer apenas que ele não sofre tanto quando elas não se confirmam.

Eu tenho vivido tranquilamente, de um jeito que parece raro, infelizmente. Também tenho observado com atenção o sofrimento alheio. Muitas brigas entre pessoas que se amam, muito desequilíbrio de pessoas que eu amo. E eu fico pensando como seria possível colaborar para que elas buscassem a própria integridade. A pergunta seria “como amá-las?". Mas já percebi que não basta amá-las.

“Now, I wish I could write you a melody so plain
That could hold you, dear lady, from going insane
That could ease you and cool you and cease the pain
Of your useless and pointless knowledge”

Tombstone Blues, Bob Dylan

Sempre faltará algo em nós. É esse o efeito colateral do desejo, da vontade e da liberdade — pelos quais tanto prezamos, mas que não vêm sem um preço.

Quando agimos baseados essencialmente nessas faltas, normalmente não somos capazes de agir com amor. Então, agredimos de forma desproporcional, falamos sem pensar, afastamo-nos de quem gostamos, somos excessivamente egoístas.

De que amor eu falo?

Eu falo do amor que sinto por tudo que não sou eu, mas também do amor por mim mesmo. Ambos estão conectados e se retroalimentam. Quem se ama é capaz de oferecer amor.

Não basta amar alguém para essa pessoa ser capaz de retribuir. Ela própria precisa se amar também. Esse amor próprio é fruto de autoconhecimento. É saber quem você é e se aceitar ou lutar para ser alguém melhor. No meio do processo, reflexão, mas também interação com outras pessoas, são bons caminhos. Parece um contrassenso, mas desapegar-se do próprio ego também é uma boa estratégia. Quem olha muito apenas para si tem uma dificuldade imensa de entender o outro e de se perceber parte de algo maior do que si mesmo. Nisso resulta uma dificuldade grande de conexão.

Em relações longas, o negócio fica mais complicado. Há uma bagagem emocional que não pode nem deve ser desconsiderada, mas que precisa ser superada. Com famílias, é muito comum. Mas é melhor manter sua família unida do que vê-la se desintegrar. Manter seus amigos por perto do que afastá-los.

Busque seu amor próprio, sua integridade. Com o amor, vem a serenidade, a paciência, a disposição e o equilíbrio. Todos passíveis de compartilhamento. E tudo isso volta. Mas, se não voltar, não tem problema. Ao menos, você saberá quem realmente é. E já terá a si mesmo, amavelmente íntegro.

Let me be patient let me be kind
Make me unselfish without being blind
Though I may suffer I’ll envy it not
And endure what comes

Tell Him, Lauryn Hill


Eu publiquei esse texto no Medium, no dia 13/04/18.