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Welcome, take a seat.

Na noite em que Pina nasceu

Na noite em que Pina nasceu, já se passavam 3 dias de contrações mais intensas, após 4 dias de contrações iniciais. Clarissa provou mais uma vez que o time feminino é o mais poderoso da humanidade. Por volta das 12:30 da madrugada de 26 de junho de 2023, eu liguei para o pai da Clarissa. Liguei para o time de parteiros. Liguei para a doula. Chovia levemente e eu já sabia que este seria o dia. Minutos depois, chamei o Uber. Clarissa achava que não conseguiria descer as escadas do segundo andar de nossa casa na St. Clarens Ave., mas conseguimos. Eu pedi ao motorista pra esperar, pois minha esposa grávida estava descendo. Ele já havia dirigido a própria esposa grávida para o parto de seu filho no hospital, então, tínhamos um especialista ao volante.

Eu, Clarissa e Vera (doula) entramos e lá fomos nós. No caminho que fizemos, de nossa rua, passando pela Bloor West, Roncesvalles Avenue, Geoffrey St e Sunnyside Ave, todos os sinais estavam vermelhos. O Uber foi bem devagar para compensar a irregularidade do asfalto.

Enquanto isso, Clarissa dava orientações à Vera sobre decisões em meio ao parto. Cordão umbilical, placenta, anestesia… Vera corrigiu o curso do Uber pra uma chegada mais veloz. E o amigão aqui escrevendo texto no celular para não esquecer os detalhes deste texto. Chegamos às 2:30 da manhã ao hospital. A entrada da maternidade fica fechada à noite. Mas os parteiros devem nos receber e abrir a porta. Jemal, nosso parteiro etíope oficial, estava em meio a outro parto e demorou a aparecer. Vera foi dar a volta no hospital pra entrar por outra porta e abrir por dentro. Mas Jemal chegou antes após uma ligação minha.

Entramos em território desconhecido orientados por Jemal e Clarissa foi acomodada no quarto 14. Nossa parteira em ação, substituta do Jemal, que ficou de coordenador, chegou e encaminhou as atividades, enquanto Vera também aparecia após Jemal abrir os corredores do hospital a ela.

Uma atendente muito objetiva me repreendeu por estar sem máscara antes de encaminharmos o processo de registro da Clarissa no hospital. Enquanto isso, Clarissa se preparava e era preparada para a batalha que enfrentaria. Um parto natural não é pra qualquer um. Após a anexação de monitores de batimentos cardíacos nela e “na Pina”, começou o processo de contrações coordenadas e esforço coletivo. Todos atenciosos, engajados e concentrados, não necessariamente ao mesmo tempo. Clarissa testou várias posições até chegar à posição deitada de costas, que seria como Pina viria ao mundo. Foram necessárias várias contrações para ela sair. Quando saiu, às 4:30 da manhã, ela estava enrolada 3x no cordão umbilical e ainda agarrada a ele com uma mão. Barriga de mãe é boa mesmo.

Acompanhei Pina nos procedimentos posteriores, enquanto Vera acompanhava Clarissa. Tudo certo com as meninas, que puderam se abraçar. E pronto, já estaríamos liberados após Clarissa passar por um check-up geral e recebermos a placenta. Liguei para Sarah, que estava com nossa cadeirinha de bebê no carro. Para sair do hospital com um recém-nascido, é preciso comprovar ao responsável que você tem condições de transportá-lo com segurança.

Saímos do hospital às 7:30 da manhã, provavelmente, batendo algum recorde Olímpico de tempo numa maternidade.

Cada filho me mudou de uma forma que eu não consigo explicar, apenas comentar imprecisamente. Eu sou menos parte de tudo e mais parte do todo. Eu tenho menos valor em mim e mais valor ao meu redor. Sinto as coisas mais distantes de mim e as observo com um carinho como se estivessem mais perto. Eu queria tudo isso antes mesmo de saber. E agora sei que era isso que eu queria.