O quão feliz eu estou
Eu escrevo sabendo antecipadamente que não serei capaz de mensurar a minha felicidade. Sei que é a maior até então. Mas não sei medir, senão por meio da enumeração dos motivos que me fazem feliz. Registro, porque pode ser que eu não esteja tão feliz no futuro e precise ler essas palavras para reequilibrar a vida. E compartilho, porque gosto de compartilhar coisas boas. E a felicidade é uma das melhores coisas.
Eu estou feliz por conseguir dar banho em meu filho de 2 anos diariamente, ao fim do dia. Por ele ainda dormir no meu colo na soneca de fim de semana. Por conseguir passear com ele no parque após pegá-lo na creche e poder vê-lo crescer, aprender a falar, sentir emoções, interagir, desenhar, escrever. Por estar disposto a ensiná-lo a contribuir com tolerância e paz ao mundo. Por querer ensiná-lo a ser gentil e me sentir capaz de fazê-lo.
Estou feliz por ter saúde para enfrentar os desafios infinitos que aparecem pela frente. Por nunca ter quebrado um osso do corpo. Por poder me sentir fragilizado frente a problemas, e em seguida fortalecido para superá-los. E até por achar que não conseguiria seguir em frente vez ou outra e ter a própria superação como uma lembrança que me mostra ser capaz de enfrentar as próximas tempestades.
Estou feliz por amar e desejar minha esposa depois de tantos anos, com a mesma intensidade, ou ainda mais. E por sermos parceiros nessa jornada mágica que foi, é e será. Que escolha mais certa foi essa pela qual eu só posso agradecer?
Estou feliz por não precisar de ninguém mais além de minha família e meus amigos. Por não precisar provar que sou bom ou virtuoso. E poder ficar no meu canto, cuidando do meu jardim.
Estou feliz por poder escutar 95% das músicas que desejo em segundos, ver 90% das séries e filmes que quiser, ler 98% dos livros que encontrar pela frente. Por poder acompanhar as vidas de meus amigos mesmo distante.
Estou feliz por conseguir ter algum tempo livre, apesar de trabalhar bastante, ter que manter a casa limpa e cuidar do Matias. E conseguir usar esse tempo livre para mim e minha família.
Estou feliz por conseguir encarar a vida com leveza, sem descarregar minhas frustrações de volta no mundo. Por ter desejo de aprender e poder exercer o meu desejo.
Estou feliz por não conseguir enumerar metade dos motivos que me fazem feliz. E por saber que um dia tudo isso passará, mas ainda assim terei a sensação de ter passado por tudo isso.
Imagem: Jean-Honoré Fragonard’s 'The Swing', [Les Hasards heureux de l'escarpolette] 1767.